quinta-feira, 8 de abril de 2010

João e Maria

pipocado por Elvino Pinheiro às 9:23:00 AM
08 de abril de 2010.


Vivemos cercados pelas nossas alternativas e por aquilo que poderíamos ter sido. Ah, se eu tivesse ido fazer jornalismo na Uerj; se tivesse feito teologia em Belo Horizonte; se eu tivesse chegado antes, chegado depois; dito 'sim', dito 'não'. Quem um dia irá dizer que foi o melhor caminho, ou foi o pior caminho?

Dois carros chegam num posto de gasolina praticamente juntos. Um homem e uma mulher. João e Maria. Gasolina e álcool. Jovens. Enquanto dois frentistas abastecem o carro, chega um terceiro carro, que para próximo a eles. De dentro, uma mulher gritando por ajuda. Os frentistas ficam paralisados, enquanto João e Maria não sabem o que fazer. Se é um assalto, não querem nem chegar perto. Porém a mulher grita que está grávida, e que está tendo um filho. Foi aí que os quatro foram ajuda-la. João até que se oferece para levá-la a algum hospital, mas ela, aos berros, diz que não vai dar tempo. Maria então sugere transferi-la para o banco de trás, pois teria que ser ali mesmo. Os frentistas saem correndo; um para pedir uma ambulância, outro para buscar toalhas, ou lenços, ou panos de chão, ou qualquer coisa do gênero.

Nenhum dos dois tinha noção do que fazer. Enquanto João esperava a criança sair, pedindo calma à mulher, Maria dizia pra ela fazer força e segurar sua mão. A mulher, aos berros, dizia que a criança estava saindo, saindo, saindo. E saiu. Quando a ambulância chegou, o bebê já havia saído, e mãe e filho foram levados a um hospital. João e Maria estão abraçados. Maria está numa crise de choro, e João está fazendo carinho em sua nuca. Ao conseguir se controlar, ela exalta o quanto João ficou calmo. Rindo, ele diz que era pavor. Ela se lembra que o bebê tinha uma marquinha no braço. Um coraçãozinho. E acha estranho uma mulher, dirigindo à noite, grávida, e sozinha. Por que sozinha? Ele responde que isso eles nunca saberão. E que nem tinha percebido marquinha nenhuma, só que era homem. Mas algo ele diz: que nem ele, e nem ela, se esqueceriam daquela noite. Nunca. Ela dá um abraço nele, e também diz nunca. Pagam pelo combustível, entram no carro, e vão cada um para um lado.

Quinze anos depois, João e Maria se encontram na rua. Se reconhecem, se abraçam, e ele a convida para um chope. O bar é assaltado por um garoto armado. João se levanta para reagir. Segundos antes do garoto disparar contra os dois, Maria vê uma marquinha no braço dele. Um coraçãozinho.

3 comentários on "João e Maria"

Richard on 8 de abril de 2010 às 10:43 disse...

Vou te contratar para me substituir no meu blog. Acho que minha historia ja nao tem mais graça depois dessa. Eu teria um ibope sinistro!
rs

Ótimo texto, Vino!
(como sempre.)

Anônimo disse...

Porque Nietzsche vai nos dizer que..... ah, dane-se!

rsrs, muito bom :)

Paula Rios on 8 de abril de 2010 às 20:37 disse...

Tipo que... Putz.. mto bom mesmo o texto! E "nosso mundo" do Barão como trilha sonora,, melhor ainda.

 

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