08 de fevereiro de 2010.
Bem que eu pensei em escrever algo sobre "gays e o exército", tentando refletir algo após as declarações do Gal. Raymundo Nonato (que tem nome e cara de personagem de Chico Anysio). Mas seria uma bobagem; ia tentar não polemizar, só pra levantar polêmica. Porém, vou tentar escrever algo útil. Que Deus, vocês, e o Haiti me perdoem se eu não conseguir.
As imagens vistas do Haiti sempre pareceram o Inferno de Dante. Com o terremoto, a escala de calamidade é sem precedentes. Há quem diga que o Haiti deixou de existir. Há quem conclua que ele nunca existiu.
Fato é que todo esse turbilhão de exposição haitiana tem sido movida por uma pseudo-caridade. C. S. Lewis afirma que "caridade" é hoje simplesmente o que antes se chamava "esmola" - ou seja, aquilo que damos aos pobres. Segundo ele, ela ganhou esta conotação moderna pelo seguinte fato: se uma pessoa é "caridosa", dar esmola aos pobres é uma das coisas mais óbvias que ela faz, e assim as pessoas passaram a chamar o ato pelo nome da própria virtude (parecido com a poesia, cuja expressão mais óbvia é a rima. Mas, uma rima, a contrário do que muitos pensam, não é uma poesia.). É incrível a nossa capacidade de abstrair coisas concretas. Quer ver uma coisa: segundo o Ipea, 30% dos brasileiros vivem na pobreza, que é definida como quem tem renda inferior a meio salário mínimo por mês. Sabe quanto o seu pai paga de mensalidade no colégio? Então, eles vivem com metade disso, enquanto você acha um absurdo ter que acordar cedo para ir pro colégio e ter uma aula estúpida de Redação.
Existe muita fome, e muita opressão dentro e longe dos bolsões de prosperidade, sejam esses bolsões promovidos pelo governo Lula ou pelo apóstolo Valdemiro Santiago. Eu sei que é uma tarefa do governo resolver esse tipo de coisa, mas a motivação do governo não é o amor. E o que deveria nos mobilizar não é um simples sentimento para nos aliviar, pelo fato de ninguém consegue ter sempre o sentimento de devoção, e mesmo que conseguisse, não são os sentimentos que mais importam a Deus.
Nossa vida pode ser o Haiti. O Haiti pode ser qualquer lugar. O Haiti pode ser onde você está.
2 comentários on "O Haiti é aqui"
Aulas de Redação não são ridículas e acho um absurdo mandarem uma galera daqui do Brasil pra ajudar o Haiti sendo que as coisas não estão nada legais por aqui.
A Sandy também acha, Gabi. E ela devia gostar de aulas de Redação também pra ter cursado Letras.
O que eu acho absurdo é eu ter nascido no Brasil com ótimas condições de vida e um hatiano nascer naquelas bandas, condenado ao sofrimento e à fome.
Ou talvez o absurdo seja querer entender essas leis que regem o Universo.
Só sei até agora que não fiz nada pra merecer a boa vida que tenho, nem o haitiano pra merecer a lama em que está metido. Se eu fosse ele acho que estaria muito puto com quem ou que quer que tivesse preestabelecido essas coisas.
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